terça-feira, 31 de agosto de 2010

O poeta do nada

Do branco se fez nada
o nulo da tua existência
desprezada e sem sentido

De palavras trabalhadas
se fizeram textos
que escondem a identidade
de quem pensa ser
um poeta inatingível

Remexe em textos
que todo o sentido faziam
queimados numa fogueira mal apagada
de orgulho e preconceito
de um ser "solo" e mesquinho

Tudo o que pensa ter
está num saco desgastado pelo tempo
uma identidade perdida
que tropeça nos seus próprios passos
e que se sufoca em poesias do nada

nada
poeta

não és
nunca o serás
porque nem homem és

domingo, 22 de agosto de 2010

O poeta surdo

Vivia alheio aos sons do mundo
Das cores criou os seus instrumentos
Do preto fez a capa do seu livro
Com enigmas e sonhos perdidos
Da solidão o título
Da obra de uma vida
Mentiras e histórias mal acabadas
Tormentos e lamentos
Desalinhados e desatentos
Despediu-se do amor em cada estrofe
Como se dele não dependesse
Vivendo escravo de cada texto
E perdido entre cada linha
Olhar triste
Sorriso fingido
Longe da vida
Porquê?

Porque todo o surdo que finge que ouve
É uma mentira barulhenta e mal acabada

sábado, 14 de agosto de 2010

Vómito de palavras

Palavras ocas
soltas ao vento
sorrisos engasgados
com palavras vomitadas
esverdeadas cor de bílis
existência recalcada
estampada nas páginas de um livro
carbonizado pelo desespero
vida fútil
ser egoísta
serás sempre
a sombra de palavras perdidas
a procura de protagonismo barato
num livro sem existência
à tua imagem
nulo
inútil

Do teu livro
rasgarei cada página
e queimarei cada linha
da tua mentira
até te carbonizar as entranhas

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Lamentos atentos

Jogava com as palavras
para delas tirar
mentiras abstractas
horas e horas
de nadas com os pés
entalados no sofá
vivia sem saber viver
com números e enigmas
baratos
num baralho de cartas
gastos pelos "vizinhos"
nas noitadas
decidiu na mentira e no orgulho
se esconder
sendo esse o seu único
e verdadeiro mau viver
quem muito sabedor se julgava
caiu no erro da maior das ignorâncias
afundando-se
no abismo da estupidez
acordando repetidamente
manhãs e manhãs
com o berbequim
do 4º andar a moer-lhe as entranhas

Estranhas sensações?
não, o sucedido
foi mais que merecido

Ficou com o recibo na mão
e perdeu a dignidade
enquanto estava distraído
com o seu gémeo Narciso

Quem eras?
Tudo
Quem és?
Nada

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Fingindo que sente

Palavras rasgadas
lâminas afiadas
numa conversa desencaminhada
pelos sorrisos cortantes
rasga
rasga
finge que sente
o que os olhos vêm
esconde
esconde
o que o coração tenta esquecer
sabes?
não, pensas saber
a lâmina passa
as palavras separam-se
o silêncio perturba
o mais atento dos ouvintes
fingindo que sente
ou sentindo o que finge?



domingo, 1 de agosto de 2010

Entre o poeta e o fingidor

Entre o poeta e o fingidor
existe um abismo de diferenças
um que vive das palavras
e o outro que finge que gosta
do que escreve
porque nada mais tem nele
que a seca mentira
entranhada nos poros
todos somos poetas
muitos fingidores
felizes?
talvez
o que sou?
nem um nem outro
ou talvez os dois
fingindo o que escrevo
ou fingindo
ser o que sou
sabendo que és
o que não queres ser

Fingir

Vivia numa pele
que não lhe pertencia
uma vida roubada e esmagada
enquanto a vida lhe falha
ficam-lhe as palavras
é esse o desafio
descobrir
se da prosa
se revela um fingidor
ou simplesmente alguém
que vive com as palavras
entaladas no esófago