terça-feira, 30 de novembro de 2010

Quarto escuro

Abriu a porta lentamente
com o movimento
sentiu um leve cheiro a silêncio
seria assim os próximos dias
silêncios
de escuridão desterrada

Decidira caminhar
de luzes apagadas
sentir o toque frio
das paredes destemperadas
de um quarto secreto
repleto de cheiro a desespero

Entre quatro paredes
fez um ângulo recto
do corpo com a cama
das almofadas um apoio rígido
de uma cabeça
com o peso do mundo

As ideias desfilaram
a uma velocidade
pouco perceptível
compassadas pelo som da ventilação

No centro desse espaço
sentou-se no chão
adormeceu
em enigmas misturados
com alcatifa seca e pouco piedosa

Pontos e enigmas
por desvendar
num quarto escuro
de um olhar
a preto e branco

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Podre e amargo sabor

De cordas do destino rompidas
fez a sua própria melodia
gemidos entalados
entranhados numa garganta
engasgada, rasgada
de tanto veneno engolido

Gelada por dentro
enrugada por fora
sacrificada por um tempo
em que o amor
lhe sabe a fruto podre
realidade crua
sangrada a frio
dor de víbora despertada
de presa abatida

Dançou ao som
de uma música maldita
nas veias corria veneno
de cobra cega
numa mistura de mulher de fogo
e alma ferida

Podre e amargo sabor
de desamor

sábado, 13 de novembro de 2010

O teu enigma

Vivia de sorrisos discretos
apenas ele os conseguia
definir e sentir
na noite fez o seu dia
refugiado na sombra
de sonhos imaginados
e por ele pensados

Nesse corpo
tocava uma melodia
por poucos ouvida
por poucos sentida
a melodia da liberdade

Por entre silêncios
construiu o seu mundo
entre silêncios
amava sem o dizer
perdera a vontade
de o exprimir

Nas linhas do tempo
escreveu a sua história
na sede do mais querer
atreveu-se a abraçar
a dor da mudança
as raízes dos seus pés
gritavam de uma saudade
ainda ausente

O mundo abriu-se finalmente
aos seus olhos
será que o viu?
do outro lado da mudança
talvez estivesse tudo
a sua espera
ou simplesmente o medo
de se perder na eternidade
de um nada
sem gosto
nem rosto

Nestas linhas
pintei o teu rosto
no meu corpo
ficou o teu gosto

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Poeira de sonho

De sentidos estagnados
corpo dorido
mergulhou nas palavras
purificando a alma
num banho
de poeira cristalina

Sentiu
sem saber sentir
a força de um amor
que lhe pintou
os sonhos
abriu-se lentamente
abraçando a vida
sem a certeza
da solidão ser quebrada

O tempo passou
os sonhos ficaram
mudaram as personagens
que foi pintando
timidamente
na tela do destino
num presente
ausente

Hoje pintou-se
num quadro
de poeira de sonho
a tela secou
num vazio de cores
corridas a vento

Palavras perdidas
numa tela em branco
de poeira de sonho
esquecida